Coseas: basta deste sistema de gestão de material humano

Por Coletivo odiamos Rosa Godoy

Há certo tempo atrás, pode-se dizer, que a administração da USP temia os habitantes do CRUSP.

Ocupavam prédios abandonados, os fazendo virar moradia, contra a administração que preferia deixá-los ruir.  Lá abrigaram-se antagonistas ao regime militar e militantes anticapitalistas (veja este depoimento de Wolfgang Leo Maar:  “O CRUSP despertava a ira do regime não só por sua posição central na organização estudantil (foi ali a grande assembléia em que se discutiu as prisões de Ibiúna) mas porque significava um espaço crítico em relação à manipulação ideológica moralizante promovida pelo governo de então. A despolitização do movimento estudantil que se promovia oficialmente tinha ali seu grande contraponto: cultura e ciência eram vistas no CRUSP como necessariamente engajadas. A política era considerada intrínseca à vida estudantil” (http://movebr.wikidot.com/depoimento:fpa-wolfgang-leo-maar).

No relatório dos militares sobre o Crusp (http://movebr.wikidot.com/crusp:ipm-68) o Crusp aparecia como o centro de toda a política estudantil paulista.  Por quê ? Porque era auto-organizado e num momento de politização massiva.

A Coseas com o tempo conseguiu controlá-lo, através da gestão de seus recursos, não apenas financeiros, mas administrativos, controlando progressivamente quem entra e quem sai, quem pode comer e quem não pode, quem se hospeda. A Coseas até hoje  mantém convênio com um centro privado de internação de dependentes químicos, e manda alunos sem autorização deles ou dos pais. Lembro-me de quando investigávamos onde havia ido parar um nosso colega, que à época estava deprimido, pois bem, o problema dele era depressão, no entanto foi enviado para esse centro de internação de dependentes químicos, desta forma mandam para lá até depressivos – imagine se este procedimento fosse adotado linearmente em São Paulo, acabaria por incluir mais da metade da população paulista)  e pessoas que passaram por processo de surto.

Saber quem entra e quem sai, uma namorada, namorado ou ambos não podem dormir com você? Não sem a autorização da Coseas, que, com o tempo, criou um gargalo ideológico para acesso de estudantes, como o de aceitar muito mais os declaradamente religiosos e evangélicos. Não tenho nada contra eles, mas a Coseas tem muito a favor.

Quando o gargalo do acesso aperta, como para muitos que retornam para suas casas após passar no vestibular, sobra a solidariedade, aceitar alguém de hóspede, apertar-se num quarto minúsculo para que eles também possam continuar a estudar e precisarão ficar fugindo, para desaparecer da administração da Coseas, que os perseguirá.

Parece o ruim? Não, não é o bastante.

Eles falam que os recursos estão acabando. Isto é, com sobra de recursos na Universidade, a Coseas apresenta os recursos para assistência como uma dádiva que não está contemplada no orçamento da USP e que em algum momento do passado, alguém teria dado à USP e a USP repassado aos seus “pobrinhos” como dádiva. Mas, como presente não é direito, não se pode reclamar, pois só aconteceu naquele momento, um dia vai acabar e os “pobrinhos” voltarão a ser cuidados somente por Deus e pela caridade de outros.

Certo tempo atrás, descobriram em gestões passadas que haviam cartas endereçadas à administração da Coseas por parte de deputados pedindo vagas na USP, que parte do dinheiro da assistência subsidiava o chopp dos professores no clube a eles dedicado, e que algumas das casas das heranças vacantes eram ocupadas como casas de veraneio cedidas a professores próximos e que disputavam o espólio que não era repassado aos “pobrinhos” da USP, renegados patinhos feios que ninguém assume, pois os outros estudantes sentem distanciamento e que, para quem é de fora, são parte da elite paulista por estarem na USP.

Em geral o movimento estudantil, com raras exceções, ou dá um piparote no Crusp ou os chama de “potencial de mobilização”, “pontecial agregador”, ou massa de manobra. Esperamos que surja algo mais comprometido nestas questões, pois a cosa está ficando feia.

Outro gargalo mais cruel é o acesso à comida. Poucos tem acesso a vales para duas refeições diárias. A Coseas pensa, quem come duas vezes por dia, que luxo! Já deu a mão e quer o braço, mas para você que pergunta, mas o bandejão não é barato? Respondo, vivi por três anos com menos de 20 reais por semana, o que incluía fotocópias e material didático. Sobra o quê? dividir a comida, assim os cruspianos fazem para se ajudar, dividir a bandeja, vocês que lá comem já devem ter visto isso.

E o que A Coseas quer impedir? Isto, que se divida a bandeja.
Além disso há conflitos com o controle exercido sobre o Crusp da parte de quem é vigiado por seguranças e portarias e outras desgraças.

A administração da Coseas criou o inferno, uma utopia negativa onde os pobres disputam entre si uma vaga escassa e tentam ser os mais dóceis possíveis à cruel administração de Rosa Godoy, que exercita suas habilidades maquiavélicas e que, agora, com Rodas, deve ter sentido um aceno em direção a seu projeto de pleno controle, isto é, vigilância, controle e punição exercido em todas as direções para gerir uma massa amorfa que se digladia por vagas.

A Amorcrusp já teve seleção paralela à revelia da Coseas que se efetivava, hoje isto parece um sonho, mas um lampejo irrompe, ocuparam o centro daquele terrível pequeno poder que realiza experimento de controle sobre os poucos pobres e pessoas distantes de suas casas que conseguem entrar na USP. Por um dia não brigaram entre si por uma vaga, mas contra a Coseas.

Acho que basta deste sistema de gestão de material humano.