por Marina Macambyra*, do blog Dia de Greve

Acabou a greve dos funcionários da Universidade de São Paulo. Chega, por enquanto. Exceto pela Copa do Mundo, amanhã tudo começa a voltar ao normal.

E o nosso normal, como é mesmo? Ah, é muito bom. O grande problema da USP são as greves, não é mesmo? As greves, os grevistas e aquela instituição satânica que é o Sintusp. A greve terminou, acabaram-se os problemas. Sai o Haiti, entra a Suécia.

A partir de amanhã, no máximo de segunda-feita, porque sexta é dia de jogo do Brasil contra não sei quem, a competência e a eficiência administrativas voltam a reinar em todos os campi.

A formação oferecida aos alunos volta a ser a melhor do mundo, graças à dedicação heroica de todos os professores, amparados por funcionários eficientíssimos com salários acima do padrão do mercado, e, naturalmente, ao entusiasmo com o qual esses alunos privilegiados respondem aos esforços dos docentes.

Não há falta de professores. O problema era a greve, que não deixava os professores chegarem às salas de aula porque não tinha Circular. Agora o Circular volta a passar a cada 5 minutos.

As bibliotecas que estavam fechadas, inclusive aquela que a Prefeitura mandou fechar por culpa das bibliotecárias encrenqueiras, voltam a funcionar com espaço suficiente, acervo perfeitamente atualizado, equipamentos de ponta e atendimento vip para todos. Tudo imaculadamente limpo, naturalmente, porque os serviços das empresas limpadoras são de primeiro mundo, dizem até que os funcionários ganham muito bem. O Sintusp é que estraga tudo ao tentar colocar ideias distorcidas na cabeça dessa boa gente.

No Hospital Universitário a espera média por uma consulta é de uma semana, e no Pronto Atendimento entre 20 e 35 minutos, dependendo do caso. Todos podem ficar doentes à vontade.

Acabou a greve, a USP volta a ser a ilha da fantasia.

De minha parte, o que tenho a dizer é o de sempre:

A LUTA CONTINUA!

E não falo da luta de caráter sindicalista ou trabalhista, mas da eterna luta diária, quase sempre perdida, contra a indiferença, a passividade, a falta de empenho de alguns colegas, o desprezo pelos trabalhadores, o oportunismo arrivista, o desrespeito generalizado, o autoritarismo que marca as relações entre alunos, professores e funcionários na Universidade, os fungos e os ácaros.

A greve pode ter acabado, mas este blog que me ajudou a manter a sanidade nesses dois meses vai continuar. Assunto é o que não falta.

*Marina Macambyra é Bibliotecária, funcionária da Escola de Comunicações e Artes da USP desde 1982.