O que é essencial na Universidade?


por Erika Pires e Vanessa Silva (Sujeito Coletivo)

Em recente reunião da Congregação da FFLCH discutiu-se a delimitação de serviços e atividades essenciais em período de greve – ou seja, serviços que não podem ser interrompidos mesmo em situação de greve, ou ainda, por continuidade lógica, servidores que não devem ter o direito de fazer greve –, como a segurança ou a limpeza, que em muitos locais se encontram já em poder de empresas de terceirização.

Nessa situação, o que estava em pauta especificamente era o fechamento da biblioteca em razão das paralisações e greves dos funcionários.

Apesar dos apontamentos de a Congregação não ser espaço competente e legal de legislação deste assunto, alguns professores se posicionaram em defesa da abertura emergencial, a qualquer custo, da biblioteca, não tocando exatamente na questão do direito ou não de greve por parte dos funcionários da biblioteca, muito embora tenham apelado a um discurso de responsabilidade e a dedicação do trabalhador público (e não só público) por seu trabalho, a necessidade de um debate solidário sobre o assunto, etc.

Entre as soluções propostas, e não aprovadas, surgiu a seguinte: abertura da biblioteca em esquema de emergência em períodos de greve com plantões de professores na biblioteca para atendimento de alunos.

Apesar do sublime que posso aí ver, a indiferenciação entre trabalho intelectual (do professor) e trabalho braçal (do atendente da biblioteca), posso também chegar a outra conclusão: qual é a função do professor? A pergunta não parece óbvia em primeira instância, mas veja-se o seguinte: se mais essencial do que ter aulas é ter a biblioteca aberta, pra que serve o professor?

É isto que os funcionários questionaram na referida reunião: o que realmente é essencial na universidade? No tripé, quem tem mais pé? Ensino, pesquisa ou extensão? A pergunta dos funcionários é bem simples, mas parece que nossos docentes não querem entendê-la ou respondê-la: o ensino é realmente importante? Dar aulas é importante? Por que tendo os professores de uma determinada unidade a pretensão de delimitar o que é ou não essencial, definindo quem pode ou não fazer greve, não estariam esquecendo de dizer primeiro o que é realmente essencial?

Os funcionários demonstram mais clareza ao defenderem que o ensino deve ser o mais valorizado, enquanto os professores em desespero e cada vez mais reféns de metas estabelecidas, por exemplo pela CAPES ou FAPESP, se colocam a disposição para trabalhar na biblioteca. Mas eis a pergunta que não quer calar: será que se realmente exercessem todas as funções de um trabalhador da biblioteca os professores seriam também capazes de realizar suas pesquisas?

Se os professores pularem essa pergunta, supondo que o ensino é sim o mais importante, não estariam esquecendo que isso é possibilitar a restrição do seu próprio direito de greve?

Apenas para não encerrar no oco da interrogação, reporto uma outra possibilidade nebulosamente sugerida para o problema da biblioteca: colocar os monitores e estagiários (que são próprios estudantes) para trabalhar. Bem, aí o que se pode concluir é: não precisamos de funcionários nem de professores. O essencial mesmo, na universidade, são os estudantes – mas o problema é que já não se sabe mais quem eles são.